Cantadas Literárias

Blog destinado à discussão da literatura em língua portuguesa.

Monday, February 05, 2007



HILDA HILST, A TRANSGRESSÃO DO VERBO

"Se tivesse madeira e ilusões / Faria um barco e pensaria o arco-íris, /Se te pensasse, amigo, a Terra toda / Seria de saliva e de chegança. / Te moldaria numa carne de antes / Sem nome ou Paraíso. // Se me pensasses, Vida, que matéria / Que cores para minha possível sobrevida?"

Ontem (4/2/2007) fez dois anos a morte de Hilda Hilst, uma de nossas maiores poetas, autora dos versos acima. Em uma das crônicas que passou a escrever no final da vida, Hilda comparou o poeta ao ornitorrinco, animal nem réptil nem mamífero, que vive na fronteira entre o "Ser e o Não-Ser", para usar uma expressão bem típica dessa mulher de versos sempre instigantes.

Assim foi a vida de Hilda, sempre na fronteira entre o sacro e o profano, entre o clássico e o revolucionário. Mais do que as supostas transgressões sugeridas por seu modo de vida, leia-se Casa do Sol cercada de cães, conversas com os mortos ou textos erótico-pornográficos, sua verdadeira transgressão foi por meio de seus versos - a "transgressão do verbo", a re-criação da palavra, como poucos poetas conseguiram em nossa língua. Essa a sua possível e conseguida sobrevida. Por meio de uma monumental obra poética que ainda necessita uma grande e acurada exegese.

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