Cantadas Literárias

Blog destinado à discussão da literatura em língua portuguesa.

Thursday, January 18, 2007

DE MACACOS E BOBOS

* "This bread I break was once the oat", já dizia Dylan Thomas. Quem não leu o trabalho do Ivan Junqueira na tradução desse poeta notável está perdendo boa oportunidade de entrar em contato com a obra do bardo galês. O que pode vir a ser uma pena. Mas não é especificamente de Thomas ou do Ivan que eu queria falar hoje. Todos já conhecem por demais as qualidades da poesia de ambos e das traduções feitas por Junqueira (vide a que ele fez dos poemas de Elliot).
O que eu gostaria de dizer é que o verso inicial desse poema magnífico, sem título no original, poderia servir de leit motiv aos nossos candidatos a poeta (há milhares deles no Brasil!). É justamente nesse ponto, o do pré-conhecimento por um artista daquilo que foi produzido por outros, que eu gostaria de insistir. Digo isso, porque o maior erro que um aspirante a escritor (ou pintor, ou cineasta etc.) pode cometer é o desconhecimento daquilo que o antecedeu. Parece-me tão óbvia a afirmação, mas o óbvio em nossas letras quase sempre é destinado ao oblívio. Produzem-se laudas e laudas de versos hoje em dia sem que seus autores tenham o menor conhecimento de tudo que já foi feito por outros poetas.
Claro está que, até alcançar seu caminho pessoal, sua voz própria, um poeta tem que trabalhar muito. O próprio Dylan Thomas é um exemplo. Gênios, que mudam a literatura em sua primeira aparição, são espécimes raríssimos. Um Rimbaud, um Whitman, um Maiacóvsky, nasce a cada mil anos. Em língua portuguesa, o congênere que conseguimos foi o Pessoa - e, mesmo esse, iniciou como êmulo de Camões (vide o "Mensagem"). O próprio Camões inspirou-se em Homero e Petrarca... A lista é longa.
Como se vê, a cadeia lógica literária obedece a um fluxo constante, como a ciência, de pequenas pedras que se vão colocando, umas sobre as outras, até a construção de um edifício (de maior ou menor porte). Literatura, e poesia, é constante diálogo com o passado, para construir o futuro. É conhecimento da técnica, para a invenção de novas técnicas. Não existe vanguarda sem retaguarda.
Nossos candidatos a poetas, deveriam pensar a respeito.

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