Cantadas Literárias

Blog destinado à discussão da literatura em língua portuguesa.

Friday, January 26, 2007


MARIO CHAMIE, SIMPLESMENTE POETA

"Nessa paz de guerra fria / entre a palavra e a vida, /só o poeta sofista /faz da palavra sofisma / o elo e a ponte /a fonte e a mina /da verdade e da mentira /num horizonte de esgrimas." Estes versos, de uma limpidez e clareza exuberantes pertencem ao mais recente trabalho de Mario Chamie, "Horizonte de esgrimas" (Funpec Editora, 2002). Ou seja: estamos há quatro anos sem livro novo desse grande mestre de nossa poesia.
Acredito que rótulos acabam por diminuir a estatura de um poeta. Desde "Lavra, Lavra" (1962) e da Instauração Práxis, que o nome de Chamie tem sido ligado às vanguardas poéticas brasileiras, e, como todo vanguardista, criticado por uns, louvado por outros. Nesse aspecto, esquecem os contendores de lado a lado, a única verdade possível: Chamie é simplesmente um poeta, dos maiores em língua portuguesa. Sua poesia é altamente elaborada e refinada, inovadora. E coerente. Sua obra tem sido construída ao longo dos anos como uma enorme catedral, tijolo por tijolo, formando um "desenho mágico e lógico", parafraseando o Chico de "Construção" .
O que não consigo entender, é o relativo esquecimento a que Chamie é relegado sempre que se fala em poesia brasileira atual. Inúmeros autores menores são citados, recebem espaço na mídia, enquanto o poeta de Cajobi é relegado a um proposital escanteio. Essa é uma atitude criminosa, para dizer o menos, com nossa literatura tão repleta de epígonos das mais diversas correntes, sempre louvados, enquanto aos verdadeiros criadores se reserva o exílio.
Vivendo há muito tempo fora do Brasil, acredito que isso só ocorra por conta da tal "política literária" vigente em nosso país. Listas e mais listas de nossos grandes poetas são feitas e o nome de Chamie não aparece. Esquecem que a diversidade e o pluralismo, a dicção pessoal e intransferível, a inovação, em poesia, são fundamentais.
Para ilustrar o que foi dito acima, nada melhor que um poema do próprio Chamie, extraído do livro Caravana Contrária (1998):

O TOLO E O SÁBIO

O sábio que há em você
não sabe o que sabe
o tolo que não se vê.

Sabe que não se vê
o tolo que não sabe
o que há de sábio em você.

Mas do tolo que há em você
não sabe o sábio que você vê.

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